Travessia pelos Lençóis Maranhenses: 3 dias
22 de julho de 2021 • Destinos • POR Daniela MarinImagina fazer uma Travessia pelos Lençóis Maranhenses? Já pensou em fazer essa caminhada de 3 dias carregando a mochila nas costas e viver essa experiência incrível?
Fizemos esse roteiro em julho de 2021, percorrendo parte da Rota das Emoções, num total de 19 dias entre Maranhão e Piauí.
Nos passeios tradicionais, os turistas conhecem apenas as lagoas que estão na borda do parque, de acesso mais fácil. Já na Travessia pelos Lençóis você conhece centenas de lagoas que se formam numa área de 155 mil hectares. Demais, né?
Nesse post vou fazer um relato completo de como foram nossos 3 dias de trekking por dunas e lagoas transparentes, além de ver um dos céus mais estrelados da vida (do deserto em Merzouga, no Marrocos, foi incrível também).
Antes da Travessia pelos Lençóis:
Chegamos um dia antes em Barreirinhas e nos hospedamos numa pousada bem simples, a Pousada do Rancho, que fica um pouco fora do centrinho turístico (mas estávamos com carro alugado).
Aproveitamos a tarde para fazer o tour da Lagoa Bonita com a agência Rota Tour, pois sabíamos que o trekking passava por milhares de lagoas mais rústicas e completamente desertas e queríamos ter noção do que era o passeio “mais comum” e o mais vendido para os turistas para justamente entender a diferença do que havíamos escolhido, além do que, tínhamos a tarde toda livre e gostaríamos de aproveitar os Lençóis Maranhenses ao máximo.
Foi bom para ter o primeiro contato com os Lençóis, me emocionar, ver o pôr do sol, etc… e também para ter a certeza de que a travessia pelos Lençóis Maranhenses era o passeio mais ideal para a gente. Nesses passeios, perde-se muito tempo buscando os turistas, em deslocamento e o tempo aproveitando os Lençóis mesmo, é bem menor…
Eu sempre sonhei em conhecer os Lençóis Maranhenses e queria ter uma imersão total no local, ficar o maior tempo possível. Desde que vi num blog de viagem que era possível fazer esse trekking, colocamos na cabeça que seria uma experiência imperdível e que teríamos que ter disposição para fazer…hehehe
Dia 1
Pela manhã
A esposa do guia nos buscou na pousada e nos levou para a casa de uma tia, onde deixaríamos o carro guardado durante os 3 dias. Nós alugamos carro pois a liberdade é imensa (caminho sem volta…rs) e seguiríamos para o Piauí na outra metade da viagem.
De lá, o barqueiro nos buscou e nos levou para o píer de onde saem as embarcações pelo Rio Preguiças. Fizemos o passeio de barco até o povoado de Vassouras, local muito esperado pelos turistas para ver os inúmeros macaquinhos e os Pequenos Lençóis (APA), numa parada de 50 minutos.
Continuamos no passeio de barco pelo Rio Preguiças (lindo por sinal) e a próxima parada de 50 minutos foi no povoado de Mandacaru, onde os turistas podem descer para visitar o Farol da Marinha do Brasil (só área externa, por enquanto), comprar artesanatos, tomar sorvete ou caipirinhas.
Então, pegamos o barco novamente e seguimos para o povoado de Caburé, com parada de 2 horas para almoço. Um lugar lindo e rústico, com o rio de um lado e a praia do outro.
Geralmente, o almoço já está incluído em todos os passeios. O nosso já estava reservado também de acordo com o cronograma que montamos com o nosso guia. Somente as bebidas são pagas a parte.
No passeio convencional, depois do almoço, os turistas retornam de barco para Barreirinhas, ou pagam uma taxa para serem levados para Atins, outro povoado muito visitado que serve de base para explorar a região, pois além da praia, também possui lagoas. O vilarejo é todo de areia (estilo Caraíva), com pousadas e restaurantes mais sofisticados que os outros.
No nosso caso, seguimos também para Atins, pois nosso trekking começaria saindo de lá pela tarde.
Pela tarde: início da Travessia pelos Lençóis
Chegando em Atins, de mochilas nas costas, o guia já tinha combinado com o cara do quadriciclo de nos buscar. Fizemos um percorrido de 1 hora de quadri, cortando o vilarejo de Atins, passando pela praia e já entrando pelos Lençóis, cruzando o oásis do Canto de Atins. Depois de 2 paradas para banho e totalmente maravilhados com aquela paisagem, o guia nos encontrou na lagoa previamente combinada com o quadri e de lá iniciamos o trekking antes das 16h.
Geralmente, esse primeiro trecho é de 9 km, porém como o guia já estava no trekking com um casal que começou 1 dia antes, nossa caminhada foi de 6 km pois ganhamos um “chorinho” de quadriciclo para chegar no ponto de encontro.
Fizemos mais paradas para banho e no final uma parada para ver o pôr do sol na lagoa. Que momento incrível!
A caminhada não é sofrida pois você se sente passeando, caminhando pela areia e fica tão deslumbrado com a paisagem que não percebe o tanto que anda.
Pela noite
Chegamos já de noite no Oásis de Baixa Grande, onde pernoitamos. Nessa primeira noite, o único difícil para mim, foi o banho. O chuveiro ficava na parte de fora, sem cobertura, sem luz, sem água quente. Mesmo no calor, eu não gosto de banho gelado, e como já estava de noite, pior ainda…
Eu não quis ir sozinha com medo de sapos e cobras…kkk Samuel foi comigo com a lanterna e tomei aquele banho de gato… Que cena! kkk
Só pensava que, mesmo com esse desconforto, já estava valendo a pena cruzar os lençóis e viver essa imersão no paraíso, sem lotação de turistas.
Mas, eu sei que esse trekking não é para qualquer um mesmo!!! Muitas pessoas não abrem mão de um conforto de hotel, de comida de restaurante e caminhar tudo isso nas férias nem pensar…kkkk As pessoas são diferentes e tudo bem! 😛
Todo o jantar que a Dona Regina nos preparou estava maravilhoso! Peixe tambaqui, baião de dois, farofa…etc
Sentamos perto da fogueira para interagir com os demais e depois subimos a duna para ver o céu estrelado. Mais um momento inesquecível da viagem! Samuel aproveitou para fotografar bastante.
Dormimos em redes, num redário fechado compartilhado com as meninas. Dormi bem, cheia de areia e feliz, nada a reclamar!
Dia 2: Travessia pelos Lençóis
Pela manhã
No segundo dia, acordamos 4:30, tomamos café na Dona Regina e nos despedimos da família que com tanto carinho nos tinha hospedado. Partimos com o nascer do sol nas dunas.
É importante começar a caminhada bem cedo para evitar o sol quente durante o esforço físico. O interessante é que o trekking é tão bem programado e calculado, que você caminha pelo início da manhã para sair do oásis e começa a avistar as lagoas mais bonitas lá pelas 8 ou 9h da manhã, justamente um ótimo horário para tirar fotos e paradas para banho.
Essa caminhada pela manhã é super tranquila pois o clima é agradável, a areia não fica quente. Na verdade, durante quase todo o trajeto a areia não é quente. Somente em alguns pontos muito fofos de duna é que se sente o calor da areia.
Tinha ouvido falar que a areia é sempre durinha e que não caminhávamos pela areia fofa durante o trekking. Isso não foi verdade! Teve muita subida e descida pelas dunas de areia fofa e inclusive alguns belos “retões” de caminhada com areia bem fofa.
Isso não foi um empecilho e nem se tornou cansativo ao extremo, pois o tempo todo a sensação de bem-estar de caminhar por aquela paisagem única no mundo supera tudo!
Nessa manhã, caminhamos um total de 14 km, incluindo paradas para banho e fotos. A caminhada inclui subir e descer dunas “bemmm” altas. Essa parte era bem divertida!
Chegamos no Oásis de Queimada de Britos na hora do almoço. Nesse horário, o calor estava intenso.
Pela tarde
Almoçamos em grupo e como teríamos a tarde toda livre, algumas pessoas foram cochilar nas redes e nós…13:30 da tarde já estávamos subindo e descendo duna novamente para retornar e ficar na lagoa mais próxima. Portanto, tivemos mais uma caminhada aí de 4 km (ida e volta).
Essa tarde foi uma delícia, pois ficamos na água (fazia bastante calor) com a lagoa e paisagem só pra gente. Uma das maiores vantagens da Travessia pelos Lençóis.
Antes do final da tarde retornamos para o oásis, pois eu queria aproveitar para tomar banho na luz do dia. Nessa segunda hospedagem, o banheiro também ficava para fora, mas era fechado. Portanto, consegui tomar um banho bem melhor que o da noite anterior.
No fim da tarde, tomamos um café na rede de frente para o rio e esperamos a hora do jantar, interagindo com os demais.
Pela noite
Ficamos batendo papo após o jantar até mais tarde próximo ao rio e depois fomos dormir. Ou melhor, tentar dormir no meu caso. Dessa vez, o redário compartilhado era meio aberto. Tinha cobertura mas não tinha portas de palha como o da noite anterior.
Assim que deitamos, todos pareciam dormir (pela sinfonia de roncos), mas eu não conseguia pregar os olhos pois escutava os porcos rondando a cabana e como não tinha porta, achava que ia acordar com um porco cheirando minha cara… kkkk
Realmente não relaxei, praticamente não consegui dormir. O que é raro, pois costumo dormir muito bem e a rede não seria um empecilho. Além do mais, pensei que com as caminhadas e o sol, me sentiria cansada e dormiria de qualquer jeito.
Mas, não me sentia cansada durante momento algum, não sentia dores nas pernas por caminhar descalça, não sentia sono, mesmo a gente madrugando para caminhar… Só me sentia feliz por estar ali, realizada, sem sono e com um pouco de medo do porco lamber a minha cara… kkkk Se é que porco lambe a cara de alguém…nem sei! Mas, vai que… 😛
Dia 3: Travessia pelos Lençóis
No terceiro dia, levantamos as 2:30 da madrugada pois a caminhada seria a mais longa até Santo Amaro. Saímos no escuro com as lanternas. Foi bem interessante caminhar de noite pelos Lençóis, cruzar lagoas ainda no escuro só com a luz da lua. A lanterna só se usa no começo para sair do Oásis, depois o céu é tão estrelado e a Lua é tão brilhante que nossos olhos acostumam com a iluminação natural.
Paramos para ver o sol nascer, mais um momento para guardar na memória! Fizemos paradas para banho e fotos e ainda fomos “perseguidos” por gaivotas protegendo seus ninhos. Essa parte vai ficar para história, mas o vídeo só no Instagram @prefiromochilar Kkkk
A parada mais esperada era a Lagoa do Junco em Santo Amaro. De fato, lindíssima! Na verdade, fotos e vídeos não conseguem demonstrar tamanha beleza de toda a paisagem durante toda essa Travessia pelos Lençóis.
Nesse último dia, a caminhada foi de aproximadamente 23 km. Além de ser o maior trecho, esse envolveu subir e descer inúmeras dunas “bemmm” fofas. De qualquer maneira, o esforço físico foi bem menor do que eu esperava, pois fizemos boa parte no escuro e cedo pela manhã com um sol bem mais ameno.
A chegada na Junco aconteceu pouco antes das 9h da manhã. Foi nossa maior parada. Ficamos aproveitando bem o local.
Fim da Travessia pelos Lençóis
A caminhada final foi belíssima, o sol já começava a esquentar e o grupo já foi ficando bem mais cansado, mas repito, a paisagem que nos acompanhava durante o percurso final era impactante e chorei de emoção me despedindo desse lugar tão maravilhoso. Senti uma realização muito grande por ter escolhido essa forma de conhecer os Lençóis Maranhenses.
Pode não ser a melhor forma para a maioria, mas certamente foi pra gente!
Chegamos em Betânia na hora do almoço, pegamos um barquinho para ir almoçar na casa da Dona Terezinha (o guia agenda tudo isso), descansamos na rede aguardando. O retorno do passeio foi o barco, quadriciclo até a vila de Santo Amaro e depois transporte de volta até Barreirinhas.
Resumo da Travessia pelos Lençóis Maranhenses:
1º Dia: caminhada de 6km de Canto de Atins até Baixa Grande
2º Dia : caminhada de 14 km de Baixa Grande até Queimada de Britos
3º Dia : caminhada de 23 km até Santo Amaro
Sem dúvidas, essa Travessia pelos Lençóis foi um sonho realizado, um misto de aventura e experiência inesquecível!
Tenha em mente:
- Não é tão difícil como parece!
- Você vai conhecer lagoas exclusivas!
- Você vai realmente ter noção da grandeza do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses do amanhecer ao anoitecer!
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