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Serra da Bocaina: paraíso do Trekking

20 de abril de 2022 • Destinos, Dicas de Viagens • POR Daniela Marin
Serra da Bocaina
20 abr

Você já conhece a Serra da Bocaina?

Ainda pouco conhecida e explorada, a Serra da Bocaina fica na divisa dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e vem atraindo olhares dos apaixonados pelo Ecoturismo. Não é à toa que estão apelidando a região de “Paraíso do trekking no Brasil”.

Na verdade mesmo, a Serra da Bocaina é um trecho da Serra do Mar que se conecta com a Serra da Mantiqueira. Seu nome se deu em 1971 com a fundação do Parque Nacional da Serra da Bocaina, criado para preservar as regiões no entorno das Usinas Nucleares de Angra I e Angra II.

O parque tem 104mil hectares e abrange os municípios de Cunha, Ubatuba, São José do Barreiro, onde está sua sede principal, Areias, Angra dos Reis e Paraty. Outros municípios, como Bananal, estão inseridos em sua “Zona de Amortecimento”.

É uma das áreas com maior trecho de Mata Atlântica preservada no Brasil, com grande diversidade de fauna e flora. Além disso, apresenta uma variedade de atrativos que vão desde praias até picos elevados, passando ainda pela história de nosso país.

Serra da Bocaina

Isso significa que a Serra da Bocaina conta com dois roteiros distintos: A parte baixa, com sede em Paraty e a parte alta, com sede em São José do Barreiro. Nesse post vou focar apenas na parte alta, porque sozinha já rende muito assunto. A Dani já falou recentemente sobre Paraty, no post 5 lugares imperdíveis no Brasil.

Parte Alta e Vale histórico

Quando falamos em Parte Alta do Parque, falamos também do Vale Histórico, região localizada no Vale do Paraíba paulista, bem na divisa com o estado do Rio de Janeiro, onde ficam municípios como São José do Barreiro, Bananal e Silveiras.

O acesso para a região é feito pela Rodovia Presidente Dutra, mas para chegar ao coração dela você precisa pegar a Rodovia dos Tropeiros (SP 068) em Silveiras ou Queluz…é aí que o passeio começa. A Rodovia por si só já é uma maravilha…paisagens incríveis, mirantes e história.

Serra da Bocaina - Areias

A região foi muito importante tanto no século XVIII por ser uma rota de escoamento do ouro descoberto no Brasil e depois no século 19, quando passou a ser uma das principais produtoras de café do país. Toda essa influência de riqueza ainda está presente nos casarões coloniais, fazendas e cultura da região, como na gastronomia.

O Vale histórico também foi um dos pontos de conflitos da Revolução Constitucionalista de 32, uma revolução paulista contra o Governo de Getúlio Vargas, e conta com um monumento em Areias para homenagear os combatentes.

Dias Atuais do Vale Histórico

Atualmente o Vale Histórico tem uma vocação rural voltada pra agropecuária, onde as cidades guardam muito de uma vida simples e pacata. Apresenta, ainda, uma estrutura turística como pousadas e restaurantes em surgimento e atende basicamente pessoas atrás de descanso ou trilheiros atrás de suas belezas.

Parque Nacional Serra da Bocaina

E na verdade, é exatamente esse seu principal diferencial, aliado às inúmeras opções de ecoturismo existentes. Sempre que podemos, corremos pra lá e já se tornou um dos nossos destinos preferidos para datas comemorativas! Prefiro que ela continue assim, do jeito que é.

Como já falei, a região é riquíssima em roteiros de ecoturismo e pra ficar claro, apesar de todos eles serem considerados dentro dos limites do Parque Nacional da Serra da Bocaina, vou considerar a sede do parque em si como sendo um atrativo a parte. As demais atrações estão razoavelmente longe dessa sede e não são acessíveis por ela. 

Parque Nacional da Serra da Bocaina

Já vou começar falando logo do Parque Nacional da Serra da Bocaina, uma Unidade de Conservação Federal administrada pelo ICMBio, situado no município de São José do Bareiro/SP.

A estrada que leva até o parque inicia no centro da cidade de São José do Barreiro (SP 221) e segue por 25 quilômetros até sua portaria. A estrada é ruim, variando trechos com asfalto, terra e outros bem esburacados. Nós vamos com nosso “kazinho” e basta ter cuidado em determinados trechos que você chega lá…

Cachoeira Santo Isidro

Ela conta com mirantes pra serra, um paredão com uma pintura já desgastada e muito verde…algumas propriedades e pousadas se instalaram em sua extensão…tem quem prefira se hospedar por ali, pra ficar mais perto do parque e das atrações…nós já fizemos isso também!

O visual que se tem da estrada é incrível….Serra da Mantiqueira e alguns de seus picos como Itaguaré, Marins…é possível ver também o rio Paraíba do Sul e a represa do Funil! Baita visual!

Finalmente a Portaria

Após quase uma hora, você finalmente chega na portaria do parque. Vale lembrar que, assim como toda a região, o parque não apresenta uma estrutura de recepção ao turista desenvolvida, mas conta com uma portaria com banheiros, ponto de água e estacionamento. Sinceramente, eu acho que essa estrutura é o suficiente…sou mais a rusticidade e a natureza crua do que lugares cheios de lanchonetes, bancos e cimento!! Rsrs

Parque Nacional

Serra da Bocaina

Dentro do parque existem trilhas, cachoeiras, picos e rios. O sr. Marcelo, funcionário da portaria, com muita simpatia nos indicou alguns caminhos e trilhas e por onde andamos havia placas indicando qual caminho seguir.

A principal atração após a portaria é a Trilha do Ouro ou Caminho do Mambucaba. É uma travessia que vai até Paraty, beirando o rio Mambucaba, por onde havia escoamento do ouro para Portugal. São 3 dias de travessia. Não fizemos essa trilha, mas fica aqui a dica.

Dessa vez que fomos para lá, decidimos conhecer apenas Cachoeira Santo Isidro. Tínhamos escolhido uma casa no Airbnb perto da cidade, com vista para as montanhas e a ideia era comemorar…rsrs

Serra da Bocaina

Cachoeira Santo Isidro

A trilha pra ela segue uma parte da Trilha do Ouro. Tem aproximadamente 2,5 quilômetros por meio de campo aberto e também por mata fechada e não necessita guia.

Como já falei, a Serra da Bocaina é um dos corredores de Mata Atlântica mais preservados e é possível ver muitos pássaros, araucárias e muito verde. O início da trilha está numa altitude aproximada de 1500 metros, afinal a estrada de acesso é praticamente subida.

Serra da Bocaina

Acredito que seja uma região que dê pra curtir tanto no verão quanto no inverno…mas tenha em mente que se for fazer trilha e subir os picos elevados, prefira o inverno…se for pras inúmeras cachoeiras, escolha o verão. Olhar a previsão e seguir orientações sobre chuvas é sempre importante.

A trilha beira um pedaço do rio Mambucaba e de uma antiga estrada e em determinado ponto, desvia-se da Trilha do Ouro a caminho da cachoeira. Quando fomos, havia uma placa indicando o início da descida.

Sim, precisamos descer bastante pra chegar até o poço e ter a melhor vista da queda d’água, mas nada complicado…na descida já se ouve o barulho da cachoeira e a vista de cima de sua queda já é incrível.

Achei muito interessante que o entorno do poço é todo cercado por mata e parece que estamos num vale fechado, com uma baita queda de 50 metros de altura. Achamos a cachoeira sensacional…o poço completa a paisagem e é fácil de entrar e nadar.

Eu sempre falo isso e vou repetir….não faça com pressa…aprecie toda aquela paisagem. Tinha um número razoável de pessoas, afinal era sábado, mas não considero lotada.

Cachoeira do Bracuí

A cachoeira do Bracuí é um conjunto de quedas do rio de mesmo nome que fica na divisa dos estados de SP e RJ, mas já dentro no município de Angra dos Reis. O acesso, entretanto, é feito por Bananal, em São Paulo.

Ela está inserida no Parque Nacional da Serra da Bocaina, porém, bem longe da sede dele e você nem se dá conta que está nos limites do parque…mas está! rsrs

Bananal é uma das principais cidades do Vale Histórico, repleta de casarões e prédios coloniais e você pode chegar lá pela Rodovia dos Tropeiros (caminho bem longo, vá por mim!) ou pelas RJ157 e SP064, acessíveis pela Rodovia Dutra em Barra Mansa, RJ.

Bananal

Da cidade de Bananal,  siga pela SP247 até o final. A estrada é incrivelmente bonita….muito verde, fazendas coloniais e como o caminho de ida é apenas subida, a altitude deixa o clima bem gostoso.

Nós já tínhamos ido pra essa cachoeira há alguns anos atrás, mas decidimos voltar em 2021, porque eu botei na cabeça que queria voltar lá…rsrs…dessa última vez ficamos num Airbnb bem perto do início da trilha e não no centro histórico como da primeira vez.

Bracuí Bananal

Existem duas trilhas que levam até a cachoeira e, na verdade, essas trilhas se encontram em determinado ponto. Na primeira, você deve ir até o final da estrada onde fica uma pousada e, se você não tiver um 4×4, você não chega e tem que deixar o carro um pouco antes. Nessa pousada eles cobram “day use” para quem vai para a cachoeira e estacionamento pra quem consegue chegar. É possível se hospedar lá também.

Todos os caminhos levam à Bracuí

A outra forma é pela propriedade do Sr. Joaquim, localizada um pouco antes do final da estrada. Nos contaram que ele, um senhor bem simpático, cobra as vezes uma taxa de 10,00 e outras não cobra. De fato, passamos pela propriedade dele na ida, mas como nos hospedamos ao lado da pousada do final da estrada, decidimos fazer por aquela via mesmo.

Vou deixar bem claro aqui que a cachoeira não pertence à pousada…apenas uma das trilhas se inicia lá. Como a pousada não estava funcionando quando fomos, fizemos a trilha sem cobrança. Vale verificar antes se esta está ativa ou não.

A trilha a partir da pousada tem aproximadamente 6 quilômetros ida e volta, num nível bem fácil, por meio de mata fechada e algumas áreas alagadas, mas sem dificuldades. No caminho, é bem evidente a bifurcação para os dois pontos de partida e após uma hora e meia de caminhada, se chega na cachoeira.

Cachoeira do Bracuí

Serra da Bocaina

A cachoeira é um conjunto de quedas do rio antes de uma queda principal, onde se abre um poço para banho…após o poço, ainda seguem outras quedas pela serra. Uma cachoeira incrível na minha opinião. Vale a pena curtir desde a parte de cima até o poço, com uma vista sensacional de Angra dos Reis e de toda a Mata Atlântica preservada.

Normalmente os lugares mais isolados, mais difíceis de chegar são os mais incríveis…é o caso da Bracuí. Apesar disso, tinha outras pessoas por lá, aproveitando a vista e o poço, mas longe de ser lotada.

Já adianto que pela estrada e no final dela existem outras cachoeiras e trilhas pra se fazer. Há também outras pousadas, inclusive, que dão acesso para a cachoeira. É uma região que permite lazer para os aventureiros e descanso para famílias e que vale ser visitada.

bracuí

Pedra da Macela

Esse é um pico que está dentro dos limites do Parque Nacional, com alguma estrutura para receber o viajante (que não passa de banheiro, indicações de trilha e mirantes e um portal, nada além. 

Claro que atualmente já está bem mais desenvolvido do que da primeira vez que fomos, anos atrás, quando não havia placas nem corrimãos ou cercas dos limites dos barrancos…

Serra da Bocaina

A Pedra da Macela fica no município de Paraty, mas é acessível pelo município de Cunha, SP. A rodovia por onde se chega é a Cunha-Paraty (SP 171), que se inicia na Rodovia Dutra em Guaratinguetá. Na altura do km 65 siga por uma estradinha de terra até a área de estacionamento, ruinzinha, mas o carro chega tranquilo.

Se você vier por Paraty, siga a RJ-165 que é a mesma Cunha-Paraty. Ela está com calçamento novo e é uma bela rodovia para quem gosta de natureza, além de fazer parte da Estrada Real.

É um dos picos mais elevados da região, com 1840 metros de altitude e a trilha é bem fácil, quase 2,5 quilômetros de subida, em estrada de pedra….não chega a ser trilha mesmo atualmente, mas o passeio vale demais a pena.

Pedra da Macela

Segunda visita

O visual que se tem lá de cima é incrível….morros com cobertura vegetal densa, baía de Paraty, muitas aves…um espetáculo! Da primeira vez que fomos pegamos um pôr do sol e fizemos um picnic lá em cima….como falei, não havia nenhuma estrutura e em 2021 voltamos lá e quase não reconhecemos…rsrs…mas o visual compensa demais!

Pedra da Macela

Pedra da Macela

Muita gente acampa lá no pico…tem área destinada pra esse fim. Nesse retorno estávamos com um amigo do Instagram, o Yuri, e queríamos levá-lo para conhecer! A cidade de Cunha é uma cidade turística famosa em São Paulo pela cerâmica, pelo Lavandário e pela gastronomia. De fato, próximo à Pedra da Macela, existem diversos restaurantes, cervejarias e outras atrações.

Pico do Tira-chapéu

Pra mim, a cereja do bolo da Serra da Bocaina, por isso deixei por último!

É o pico culminante da Serra da Bocaina, situado a 2088 metros de altitude, um dos 10 picos mais elevados do estado de São Paulo, localizado no município de São José do Barreiro.

Ele é um daqueles picos que você nem percebe que está dentro do parque, mas de fato está. O acesso é feito pela mesma estrada que se chega no parque, a SP 221…então já sabe, aproximadamente 25 quilômetros em subida, naquela estradinha cheia de mirantes e visuais incríveis.

Essa foi a vez que ficamos hospedados lá em cima, perto do início da trilha para sair de caminhada bem cedo e poder aproveitar mais (dica valiosa). A experiência de onde nos hospedamos eu já contei no post 4 dicas de trilhas incríveis no eixo SP/RJ/MG.

Pico do Tira Chapéu

Serra da Bocaina

Mas antes de ir, tenha em mente o seguinte: o pico não conta com a estrutura do parque, mesmo sendo parte dele…não há portaria nem placas indicando, além de ser uma trilha bem pouco popular, ou seja, você não terá muita companhia por lá. Fizemos tudo por conta, como sempre, e contamos com o apoio do Wikiloc para nos guiar.

Falta muito pra chegar?

Bem, atualmente a SP 221 está muito bem sinalizada, com placas para o parque e para o Tira-Chapéu. A bifurcação ocorre bem perto da portaria do parque e te leva até a Fazenda Cincero, onde deixamos o carro estacionado. Na época não houve cobrança nem de estacionamento nem pra trilha.

Pico do Tira Chapéu

Parque Nacional

 O início da trilha se dá de fato na emblemática placa “Cabana do Pai Tomáz”. De lá, são 6 quilômetros só de ida, sendo que boa parte da trilha é feita por campos abertos, em plena subida. Há também trechos de mata fechada pra refrescar um pouco. A trilha é considerada de nível moderado, muito pelo ganho de elevação.

Chegar no topo do pico é aquela sensação incrível….pela realização, pelo visual e pelo descanso também! rs

Lá em cima há uma cruz e uma pedra onde é o verdadeiro cume. Tem também área para camping e se estiver com tempo aberto, terá um visual para Baía de Angra dos Reis. Não acampamos, mas dedicamos muito tempo pra ficar por ali, curtindo o visual, almoçando e conversado com os poucos aventureiros que chegaram depois da gente.

Outros passeios na Serra da Bocaina

Um ponto importante é quando ir para a Serra da Bocaina…acredito que o ano todo é possível visitar pois a diversidade de passeios é grande. Só verifique qual a melhor época para o tipo de passeio que você deseja fazer.

É impossível não querer explorar mais a Bocaina…são inúmeras cachoeiras, sendo que eu indico ainda a dos Mochileiros, dentro do parque e a do Mimoso em Bananal. São lugares que voltaremos com certeza.

Como trilha, sem dúvidas a Trilha do Ouro é a mais recomendada por toda experiência que ela proporciona. Além disso, as cidades da região apresentam diversas atrações fora do ecoturismo, como prédios e estações históricas, plantações de lavanda, campos de olivas, gastronomia regional, experiências em fazendas cafeeiras e por aí vai, mesmo que só esteja buscando descanso.

Uma região incrível, com uma cultura bonita, gente simples e educada. Um lugar que consegue manter sua essência, muito por não contar com um turismo predatório, o que o torna totalmente único e que ainda vai render muitos posts por aqui no blog.

Esse texto foi escrito por Samuel Cavalcanti, meu marido, fotógrafo e editor do Blog Prefiro Mochilar.

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