Turismo de Experiência no Pantanal Sul – MS
28 de maio de 2022 • Destinos, Dicas de Viagens • POR Daniela MarinVocê já pensou em visitar o Pantanal?
Quando você ouve falar em Pantanal, o que vem primeiro na sua cabeça? Animais, pernilongos, novela? rsrs
Pra mim sempre vinha um lugar que eu queria muito conhecer, mas que sempre deixava pra depois. Queria muito ir por toda rica fauna que tem por lá. São animais que só existem no Pantanal ou que, pelo menos, é mais fácil de encontrar nesse lugar.
Só que a vontade era ter uma experiência por uns dias, poder observar e fotografar os animais tranquilamente, entender todo o ecossistema e saber da importância de sua preservação.
Com a pandemia, decidimos apostar no “caseiro” para diminuir o risco de cancelamentos de voos e de mudanças da situação da doença pelos países, inclusive no Brasil. E isso ajudou e muito na realização desse sonho. E a Dani, sabendo da minha vontade, acabou aceitando minha ideia…pergunta se ela gostou? 😊
Sobre o Pantanal
A área onde está inserido o Pantanal é uma planície úmida, a maior do mundo, com aproximadamente 150mil quilômetros quadrados abrangendo o Brasil, o Paraguai e a Bolívia, onde recebe o nome de “Chaco”.
No Brasil, está presente nos estados do Mato Grosso do Sul e no Mato Grosso, sendo 65% de sua área no MS e 35% no MT. Por esse motivo que, normalmente se divide o Pantanal em Sul e Norte.
É considerado pela UNESCO como Reserva da Biosfera devido a toda biodiversidade existente por lá. São cerca de 4700 espécies de todo tipo de vida…peixes, aves, árvores e mamíferos, sendo que algumas delas em risco de extinção e outras que só ocorrem por lá.
Esse lugar também me mostrou que tudo está conectado nesse mundão…o Pantanal está cercado por Serras, exatamente para criar o desnível necessário para que as águas das chuvas nas cabeceiras dos rios da bacia do Alto Paraguai se acumulem nessa planície.
Após as chuvas, as águas demoram até 4 meses para serem levadas até o Oceano Atlântico. E assim a vida se renova.
Quando ir
Bem, já que o assunto é chuva, o período com maior incidência costuma ser entre novembro e março, que é o verão. Dezembro costuma ser o mais chuvoso, mas não há muita regularidade.
A estiagem vai de abril a setembro que coincide com o inverno. Esse período é conhecido como “vazante”, quando as águas estão vazando para os rios.
Mas e aí? Vai depender do que você quer ver…no nosso caso, fomos em maio, começo da época de seca e eu queria ver a vida selvagem, incluindo a onça-pintada. Essa é a melhor época pra isso…as paisagens ainda estavam bem verdes, com algumas áreas alagadas ainda…lindo!
Na época de chuvas, os rios ficam cheios, as planícies bem alagadas…paisagens também lindas e diferentes…é possível observar muitos jacarés e fazer passeios de barco.
Como chegar
Como falei, há uma divisão entre Pantanal Norte e Sul, sendo que o Sul está no MS e o norte no MT. Fomos para o Sul, aproveitando nossa ida para Bonito. A Dani vai contar tudo pra vocês dessa viagem em outro post.
Descemos em Campo Grande e alugamos um carro, como sempre fazemos. De Bonito, pegamos a MS-178 até Bodoquena e de lá a MS-339 até Miranda, nosso destino pantaneiro.
Para volta, fomos direto pela BR-262 até Campo Grande. Se você for apenas para lá, serão 208 quilômetros desde Campo Grande.
Turismo de Experiência
Vai ter um post específico sobre o tema, mas vou falar brevemente sobre esse tipo de turismo que vem ganhando força atualmente aqui no Brasil.
Turismo de Experiência é aquele em que o viajante investe em roteiros alternativos para explorar e vivenciar o destino, realizando a viagem com tempo, de forma individual e criando uma integração com o local. Nossa cara, né?
Nessa “trip” até o Pantanal escolhemos uma fazenda dentre algumas opções da região que oferecem hospedagem, história, passeios e muita integração com o ambiente pantaneiro. Ficamos 3 dias na Fazenda San Francisco, com todas as refeições incluídas…o local é bem isolado, melhor impossível.
Muitas pessoas saem de Bonito para um “day-use” por lá…eu não faria isso…são quase 3 horas só de ida, mais a volta…fora que foge exatamente da proposta do lugar que é vivenciar o Pantanal. Mas, de fato existe essa opção.
Dia 1
Eu queria sair cedo de Bonito, já que são 170 quilômetros e de carro seria 2 horas e meia de viagem. Queria chegar cedo pois a fazenda tem muitas aves no entorno de sua sede. Já foram catalogadas por lá cerca de 400 aves das 650 existentes no Pantanal. A ideia era aproveitar ao máximo.
Chegamos perto do almoço e foi o tempo de fazer o “check-in” e nos ambientar…ficamos caminhando por lá e descansando …um pouco de cada…eu fotografando aves…fiquei realmente doido de tanta ave por lá…paraíso para os observadores.
Um ponto negativo é que a entrada no quarto só seria permitida após as 16 horas…achei exagerado e nada simpático com os viajantes…mas, é a política do local.
O almoço acaba sendo uma atividade…a comida é bem típica, num ambiente bem pantaneiro. Após almoçar, escolhemos um cantinho para descansar, ficar em contato com a natureza e, inclusive, um tatupeba apareceu por lá para alegria geral.
A Chalana
O lado bom é que já estava agendado para às 14 horas um passeio pelo corixo São Domingos, perto ali da sede…primeiro contato real com Pantanal. Corixo é uma espécie de rio provisório que leva as águas da planície encharcada para os rios perenes…e assim drenam toda a região.
O passeio foi numa chalana, um barco típico de lá e foi possível observar muita vida animal…muita! O corixo nas secas é um ecossistema fechado com peixes, jacarés e ariranhas. Foi lindo de ver e poder apreciar toda essa maravilha da natureza. Muitas pessoas aproveitaram para fazer a pesca recreativa para tentar ver a famosa piranha…mas ninguém pescou nenhuma.
Os peixes voltam para a água após serem fisgados…mas nós não fizemos essa pescaria…aproveitamos para curtir o visual, muito diferente de tudo que já vimos. Inclusive, uma quantidade enorme de aves!
E o pôr do sol? Sempre ouvia falar…ver foi diferente…ainda mais acompanhados de um casal de arara-azul, totalmente livre…escandalosas e lindas!
Focagem Noturna
Após o jantar, bem cedo para um paulista, tem um dos passeios mais esperados, a focagem noturna. Sair no meio da noite para tentar observar animais de hábitos noturnos foi algo sensacional…toda a falta de visibilidade e a expectativa de encontrar os animais geram um pouco de suspense gostoso!
A guia pantaneira tem muita experiência…vive por lá e consegue ver os bichos de longe…apesar do calor que se faz na região, o carro é aberto e venta…a temperatura cai. Leve muita blusa!
Vimos muitos cervos do pantanal, jaguatirica, um felídeo lindo, menor que a onça, mas lindo igual. Algumas corujas também vivem por lá, como a cara branca. Foi incrível ver o fenômeno dos olhos dos jacarés brilhando na água com o foco de luz batendo ou os vagalumes piscando sobre as lagoas…esses dois vão ficar na memória apenas!
Infelizmente não vimos a onça-pintada que tem hábitos noturnos…de dia seria mais difícil ainda!
Dia 2
Acordamos cedo, com os aracuãs do pantanal cantando…impossível não acordar kkk. O quebra-torto (café da manhã) estava pronto logo às 7 da manhã e matei a saudade do “bolinho de chuva”…
Esse dia tinha como atividade passear pela propriedade para avistar animais selvagens e conhecer paisagens locais. O dia inteiro foi assim e achamos muito bacana. Vamos em carros abertos e conhecemos um pouco da fazenda, o que realizam na agropecuária e toda área de Reserva Natural preservada.
Claro que o mais esperado era ver a onça…sempre ela…rsrs…acabou que um veículo avistou uma onça em um ponto e avisou pelo rádio…o guia pantaneiro parou tudo o que estávamos vendo e saímos em busca dela…sério, foi muita adrenalina e uma expectativa impressionante.
Quando chegamos no ponto onde ela foi avistada, precisamos fazer silêncio pois ela, assim como todos os animais silvestres acabam se acostumando com os motores dos veículos…seja da estrada, seja da propriedade que tem muitos, pra lá e pra cá. Mas os animais não estão familiarizados com muita gente e com nossas vozes. Silêncio é essencial.
A onça estava lá, deitada, livre e descansando na sombra. Foi uma sensação única poder vê-lo (era um macho) em seu habitat, como deveria ser para todos. Garanto pra você…é muito diferente vê-los livres do que em cativeiro.
Deu tempo pra contemplar, fazer algumas fotos, contemplar mais um pouco até que ele decidiu se esconder no meio do mato…acho que incomodamos seu sono!
Mais safári
Pela tarde, tivemos mais tempo para curtir a sede, descansando no redário e tomando sorvete antes do safári de tarde…a ideia era fazer uma trilha, ver mais animais e subir um mirante de 12 metros de altura para apreciar a mata do pantanal com um belo pôr do sol.
Só que a guia que estava com o grupo dessa vez queria tentar ver a onça também…e lá fomos nós, em busca dela…e não é que a guia encontrou… Estava descansando na beira de uma das estradinhas…paramos um pouco mais longe, o suficiente pra apreciar a vista tranquilamente…que dia!!!
Tentamos aproximar um pouco mais, mas ele percebeu e logo levantou pra ter seu sossego novamente. Certíssimo!
A vida selvagem por lá é impressionante…vimos também o tuiuiú, ave símbolo do pantanal, gaviões, emas, jacarés e capivaras. O ritmo é bem tranquilo, gostoso de se fazer! A trilha que faríamos estava um pouco degradada devido aos incêndios que afetaram a região…o período de chuvas esse ano não foi dos melhores, infelizmente!
Mirante do Pantanal
Subir o mirante foi muito interessante…ver de uma outra perspectiva ajuda a entender todo o contexto…fora que o visual com o sol baixando foi sensacional! Outro ponto interessante, e que sempre comento, é que num local assim, conhecemos pessoas com interesses parecidos com os nossos e isso gera uma interação bacana!
No jantar e antes da segunda focagem noturna conversamos muito com outros dois casais que também curtem animais, fotografias e viajar, claro! O papo flui naturalmente.
Essa outra focagem noturna nos reservou algumas novidades como uma serpente, uma jaguatirica se alimentando e muitos cervos do pantanal. Não me levem a mal quando eu falo que é legal ver animal se alimentando de outro…mas é como a vida silvestre funciona…e é bonito ver isso acontecer!
A curiosidade sobre os cervos é que tiveram seu nome alterado para cervo do pantanal pois em outras regiões foi extinto…já no Pantanal é muito encontrado, mas é uma espécie considerada Vulnerável pela lista vermelha da IUCN.
Dia 3
Segunda manhã e o roteiro foi o mesmo…aracuãs cantando e quebra-torto…após isso, uma cavalgada em grupo para ver a parte de agropecuária da propriedade e tudo que é produzido por lá. Gostoso pelo passeio despretensioso.
Nesse dia, decidimos relaxar mais um pouco na sede antes de voltar para Campo Grande. Valia a pena mais um chorinho daquele lugar, né? E ainda pra finalizar, vimos uma boiada sendo tocada por verdadeiros boiadeiros na estrada! Que cena!
Vimos muita vida selvagem e falando com o Éder, guia pantaneiro, os animais que aparecem por lá não são “chipados” ou recebem alguma identificação…ficam totalmente livres no habitat. A Fazenda apenas contabiliza as avistações.
Muitos deles simplesmente se sentem confortáveis na área da Reserva Natural e decidem ficar por um tempo…ou ir e voltar às vezes.
A onça que vimos já é conhecida deles, mas assim como eles não fazem nada para atraí-la, não fazem nada para afastá-la, apenas a deixam de fato livre, como os demais. O ecossistema por lá é original e fornece para os animais o que eles precisam…abrigo e alimento.
E isso foi o mais especial pra mim…ver animais em sua forma bruta, no seu habitat e saber que se o homem ajudar, muita coisa pode, sim, ser preservada.
Saímos os dois com uma sensação tão boa de realização, de ter vivenciado uma experiência única e linda.
Esse texto foi escrito por Samuel Cavalcanti, meu marido, fotógrafo e editor do Blog Prefiro Mochilar.
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